O tratamento hormonal consiste na toma de 1 comprimido por dia durante 5 anos, o propósito é apenas um: matar a parte hormonal da mulher, os bichos maus alimentam-se de hormonas, portanto se elas não existirem o bicho mau não tem o que comer (de forma simples foi isto que o médico oncologista me explicou).
Isto vai reduzir a probabilidade de reincidência e a probabilidade de vir a ter na outra mama.
Ora vamos lá então acabar com o manjar desta malta, pensei.
De início correu tudo lindamente, mas pouco tempo depois começaram os sintomas secundários, dores musculares, muitas dores musculares, uma semana era a barriga das pernas que parecia querer explodir, na semana a seguir eram os pulsos dormentes como se estivesse com uma valente gripe, depois eram os braços pesados, o por aí adiante.
Quando as dores musculares passaram começou outra fase, algo que eu desconhecia e não compreendia. Chorar, chorar por tudo e por nada e uma tristeza imensa. Chegaram-me a dizer que era o mesmo depois de ter um bebé, mas eu não sofri de nada disso quando a minha filha nasceu.
Não me queria habituar a isso e muito menos estava para passar os meus dias a chorar e deprimida, sim era isso mesmo que estava a acontecer, eu estava deprimida.
Conhecendo-me como conheço não aguentei aquilo muito tempo e fui falar com a enfermeira que dá apoio a mulheres que passam por situações destas no hospital onde fui e estou a ser acompanhada (chegará o dia em que vou escrever acerca deste local).
Depois de me ouvir e de me fornecer uma quantidade considerável de lenços de papel (Obrigada Enf. Filipa Martinho), ela aconselhou-me a falar mesmo com o oncologista e de imediato eu estava a seguir para o consultório dele.
Pois bem, é tudo normal, isto porque o meu corpo, o corpo de uma mulher de 41 anos, não quer que lhe eliminem as hormonas, se elas ainda lá estão é porque servem para alguma coisa, então o que acontece é uma imensa guerra interior, uma enorme descompensação que pode levar a uma grande depressão, e uma vez mais me disseram, é preciso coragem para assumir isto, para assumir que está deprimida, mas é fundamental.
É fundamental não fugir do problema, é fundamental falarmos com quem entende do assunto no momento certo e é fundamental escutar.
O remédio foi contrabalançar isto com um antidepressivo, claro está. Era isso ou continuar a sofrer... e se há coisa que eu não quero mais é sofrer, venha de lá o comprimido milagroso que me deixa feliz e contente.
Hormonas, hormonas a quanto obrigam...
Me
Photo by ♥ Pedro Neves
4 comentários :
Muita coragem teve em descrever publicamente o problema, a dor e a tristeza que está a sentir... Qualquer uma de nós estaria a sentir-se do mesmo modo... Agarre-se com força às coisas de que gosta, do que acredita, do que lhe transmite força e a quem ama. Vai tudo correr bem!
Muito obrigada pelas palavras, é necessário coragem sim para expor publicamente algumas coisas, mas eu acho que é importante, é importante falar-se do tema, é importante as pessoas partilharem as suas experiências e mostrar que é possível, é possível vencer!
Beijinhos
Olá Dora, tenho vindo a acompanhar com muita atenção, e emoção, o teu depoimento. Foste e continuas a ser uma guerreira. Não consigo imaginar a tua dor, tanto física quanto mental. Parece que quando coisas muito más acontecem, tiramos forças de algum lado. Mas não terá sido fácil, reerguer-se, assumir que se quer levar a vida de antes, desejar ser feliz novamente. Tua partilha é muito importante. Em Maio último, com o problema do meu marido, foi fundamental dizeres-me para sorrir. Lembro-me de tê-lo feito até à entrada da porta para a sala de cirurgia, mas quando o levaram para dentro, desabei completamente, numa torrente que nunca mais acabava. Beijinhos Dora, que sejas recompensada pela tua força, tenho a certeza que serás.
Muito obrigada Valéria, foi das pessoas que me incentivou muito a partilhar a minha história, e agradeço-lhe por isso, pois está a ser muito bom para mim, para além de ser uma forma de puder ajudar outras mulheres, é uma forma de também me ajudar. Por vezes precisamos exteriorizar algumas coisas para não serem um peso tão grande.
Obrigada pelas palavras de encorajamento que sempre teve comigo.
Beijinhos
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